Os italianos discutiram-no, os franceses propuseram-no e os dinamarqueses adotam-no com uma decisão "tiro e queda". Impõem novamente os controles nas fronteiras, o que significa que violam escandalosamente a Convenção de Schengen.

Assim, reconstruirão guaritas na linha fronteiriça com a Alemanha, nos portos, assim como na famosa ponte de Oresud, que liga Malmö, Suécia, com a capital da Dinamarca, Copenhague.

Esta ponte tornou-se há uma década símbolo de amizade entre os dois estados a ponto de se inventar a expressão "os cidadãos de Oresud" para aqueles que aproveitavam do desimpedido vaivém interestadual.

Hoje, cerca de 72 mil pessoas utilizam diariamente a ponte: Uns trabalham em um estado e vivem no outro, enquanto, outros fazem o caminho inverso. Mas alguns outros aproveitam da liberdade deste livre trânsito para exercer atividades ilegais.

Na Dinamarca decidiram reativar os controles de fronteira, a fim de limitar a imigração ilegal e o crime organizado. Isto foi decidido há alguns dias e será adotado "em duas ou três semanas", e é preciso dizer o nome de quem festeja pela decisão: Pia Kiarsgard, líder do Partido do Povo (Dansk Folkeparti), a qual, com o percentual de 13,9% e participação no governo dinamarquês, tem adquirido papel regulador em seu país (e na Europa, por extensão).

Kiarsgard tem três motivos de existência política: busca baixa tributação, mínimos gastos estatais e é fanática inimiga dos imigrantes, especificamente, dos muçulmanos, os quais caracteriza como mentirosos e ladrões. E há alguns anos havia proposto o bloqueio da frequência da TV Al Jazeera, porque a informação proveniente de fontes árabes – segundo sua opinião – dificulta a integração dos estrangeiros.

Contra muçulmanos

O governo dinamarquês (de coalizão) já investiu até agora 20 milhões de euros nas necessárias infra-estruturas e organização dos controles fronteirços, enquanto calcula-se que são necessários cerca de 17 milhões anuais de euros para o sistema de fiscalização funcionar. Seguramente, esta decisão constitui um rombo na unificação européia.

Porém, simultaneamente, este approach constitui a matéria de ligação entre os conservadores que vêem o Islã como única ameaça contra a Europa. E já se tem notícias de novo tipo de partidos políticos, os quais têm como seu principal objetivo a repressão e expulsão de estrangeiros, especificamente, de muçulmanos.

E não se trata dos conhecidos padrões periféricos da Espanha e Irlanda, muito menos dos padrões fascistas da Hungria e Romênia, que funcionam como sobras de outros períodos. Os novos fascistóides direitistas da Europa Central podem escolher qualquer um para seu líder, e não terão nenhum problema de coexistência com os demais europeus. É por isso mesmo que jamais foi posta em discussão questão de limpeza étnica quando era construída a ponte de Oresud

A xenofóbica direita torna-se popular por seu caráter prático. A começar com "o que vão comer todos esses estrangeiros? Onde vão trabalhar?" Até as questões mais delicadas, como os ataques ao chargista que desenhou Maomé, até as mais simbólicas, que são os alto-falantes nas mesquitas, esses partidos expandem-se, crescem e orientam as evoluções.

A Dinamarca já possui a mais severa legislação sobre imigração em toda a Europa e graças à persistência de Kiarsgard restringirá a entrada de indesejáveis em seu território. A xenofóbica direita européia faz o "trabalho sujo", isentando aqueles que se dizem progressistas com propostas sobre solidariedade da classe trabalhadora.

A Europa não dá as boas-vindas para outros estrangeiros, e isto não tem relação alguma com a civilização européia como a definia T.S.Eliot. As razões são, infelizmente, outras.

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Fonte: Monitor Mercantil