Urram as multidões dos insurgentes povos em todos quase os países árabes. Os regimes autoritários de toda a "Arabía", do Marrocos, no Oceano Atlântico, até o Bahrein, no Golfo Pérsico, todos, rangidos, estão se abalando. Os tiranos tremem vendo que, um após outro, começam a despencar. Ben Ali, na Tunísia, e Hosni Mubarak, no Egito, já constituem passado, enquanto vários de seus remanescentes colegas não sentem-se nada bem.

É óbvio que o sistema de "governança" dos Estados árabes já entrou em crise profunda e já esgotou suas possibilidades – com exceção, talvez, das petromonarquias de opereta do Golfo Pérsico. Os regimes podres da época colonialista têm perdido sua definição legal na consciência de seus povos.

O problema social é o principal motivo das insurgências que eclodem. Os regimes árabes já estão impossibilitados de garantir trabalho e vida com dignidade a toda e mais instruída, particularmente jovem, população. E os tiranos recorrem cada vez com maior frequência à violenta repressão a fim de controlarem a situação que agrava inevitavelmente a questão da falta das liberdades democráticas, comprovando o totalitarismo destes tiranos.

Recuo do Islã

Ao que tudo indica, o Islã político perdeu a guerra para as consciências das massas árabes. Em antítese com os 15 anos anteriores, quando os jovens árabes instruídos e desiludidos, tanto pelas "socializáveis", quanto também pelas agressivas teorias capitalistas do Ocidente, buscaram saídas no Islã político, o qual enriqueceram com características sociais modernas, os jovens árabes de hoje são mais reservados com relação ao Islã político. Não são tanto atraídos pelas suas mensagens, conforme comprovaram as insurgências na Tunísia e no Egito.

Inicia-se o jogo político na "Arabía", a mais importante evolução do recuo da influência do Islã político. Reduz-se o risco de engaiolar-se toda a revolta social e toda a radicalização social em um novo doutrinador e, por natureza, âmbito totalitário, aquele do Islã político.

Isto não significa, naturalmente, que o Islã político não conquistará a posição a que tem direito em um sistema democrático, a exemplo de como demonstram o Hezbollah, no Líbano, e a Fatah, na Palestina. Mas, simultaneamente, existirão também as forças políticas religiosas que reivindicarão a representação de parcelas do eleitorado.

Comprovou-se que os regimes totalitários não constituem "muralhas" capazes a deter o avanço dos islamistas, como sustentavam para os EUA e a União Européia, mas, ao contrário, fator decisivo de apoio objetivo dos movimentos islamitas, considerando que excluíam qualquer outra força política opositora.

Obama em corda bamba

Os métodos violentos de repressão que utilizam estes regimes são, aliás, fator considerável de radicalização de indivíduos, grupos e forças políticas que, inicialmente, reivindicavam somente reformas.

"Morte a Khalifa!" gritavam as multidões semana passada em Bahrein, referindo-se ao rei Hamad bin Isa al-Khalifa, após o covarde massacre de manifestantes pelas animalescas forças policiais, constituídas por mercenários da África subsaariana, a serviço do monarca.

Os mesmos manifestantes, um dia antes, e apesar da ocorrência do assassinato de dois manifestantes pelas forças policiais, estavam nas ruas manifestando seu apoio ao rei e reivindicando apenas melhorias constitucionais. Mas o regime radicalizou em apenas uma dia suas posições.

O que farão os EUA sem os tiranos árabes? Todos estes que estão a perigo são aliados dos EUA – com única e relativa exceção Kadafi, da Líbia, o qual, contudo, já havia se entendido com os norte-americanos e europeus nos últimas anos, ao abandonar qualquer resquício de seu passado radical.

Mas, o dilema para o governo de Washington é muito grande: deve continuar apoiando os falidos ditadores, ou "vendê-los" politicamente, posicionando-se a favor de suas quedas?

Incerto é o que resultará das insurgências árabes. Regimes, manipulação, radicais ou, talvez, idênticos aos anteriores, simplesmente, sem os antigos ditadores? Esta incerteza tortura os norte-americanos. E até que possa se garantir que as mudanças são seguras e confiáveis para os EUA, Obama estará em corda bamba.

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Fonte: Monitor Mercantil