Se os jornais do mundo elegessem não a personalidade, mas o país do ano 2010, a Alemanha venceria sem competição. Até recentemente todos sabiam que a União Européia (UE) era sediada no triângulo Bruxelas-Estrasburgo-Luxemburgo, que hospedam, respectivamente, a Comissão Européia (CE), o Parlamento Europeu (PE) e o Tribunal Europeu (TE).

Porém, de agora em diante os europeus deverão concordar com a idéia de uma Europa na qual as críticas decisões serão tomadas no triângulo com ângulos em Berlim – sede da chancelaria alemã – em Frankfurt – sede do Banco Central Europeu (BCE) – e em Karalui – sede do Tribunal Constitucional da Alemanha, supremo vetor dos acordos e convenções européias, de Maastricht até Lisboa.

A retórica pergunta de Henry Kissinger: "Europa? Com quem a Casa Branca poderá falar se precisar?" encontrou finalmente a resposta: "Com "Frau" Angela Merkel".

As crises geopolíticas que abalaram a Europa nos últimos anos, Bósnia, Kosovo, Iraque, Afeganistão e Geórgia trouxeram a primeiro plano a França – membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) – com a Alemanha no papel de co-condutor.

Porém, a crise fiscal revelou como protagonista a Alemanha. A locomotiva econômica do Velho Continente, com seus gigantescos superávits, funcionou como a autoridade à qual apelam todos os ameaçados com falência.

"Carimbo" alemão trazem também os três mecanismos de salvação de 2010 que alteraram – para pior – o regime da União Monetária Européia (UME). Primeiro, o utilizado no caso da Grécia; depois, o provisório, acionado por motivo da crise da Irlanda; e terceiro, o permanente, com vigência até após 2013.

Encontros a dois

Obviamente, a Alemanha tratou de manter todos os pretextos contra a França. O mecanismo provisório de salvação foi formalizado por Merkel e Sarkozy em 18 de outubro do ano passado e foi simplesmente confirmado pela Reunião de Cúpula da UE realizada em Bruxelas dez dias mais tarde.

Também, o mecanismo permanente foi formalizado em outro encontro de Merkel e Sarkozy e posteriormente confirmado – sem discussão – pela Reunião de Cúpula da UE, realizada nos dias 16 e 17 de dezembro do ano passado.

Desta forma, os dois parceiros revelaram uma nova UE do eixo franco-alemão claramente baseada sobre o modelo de cooperação intergovernamental que enterra os sonhos confederativos e reduz – ao máximo – o papel da CE.

A propósito: o presidente da EU, Herman Van Rompuy (o Poeta), não foi convidado e não participou de nenhum dos encontros dos dois parceiros.

Entretanto, a salvação das aparências tem um custo gigantesco para o Governo da França. A revista Marianne escreveu com humor amargo: "Se estamos falando sobre uma bicicleta gêmea franco-alemã, está mais do que claro que os franceses pedalam e os alemães seguram o guidão".

Com diametralmente oposto ponto de vista justifica estas avaliações o jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung. Sob o título "Sarkozy é obrigado a acompanhar Merkel", o jornal alemão recorda que Sarkozy "vendeu" a Grécia e os demais Pigs: "Na primavera apresentou-se como advogado de defesa dos países mediterrâneos da Zona do Euro, a fim de conseguir a salvação da Grécia e os necessários recursos. Contudo, na reunião que teve com Merkel (em 10 de dezembro do ano passado), defendeu, ao lado da premiê alemã, a rejeição do eurobônus, de pirraça, contra a crítica que lhe fizeram Itália e Luxemburgo".

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Fonte: Monitor Mercantil