O governo de direita do país matou de fome os estonianos para integrá-los à Zona do Euro. Adotou uma liquidante política de frugalidade, que afundou o Produto Interno Bruto (PIB) do país em 14,1% em 2009, este, que já havia derrubado em 5% em 2008. Cortou os salários dos funcionários públicos em 20%, enquanto, no setor privado, a redução de salários superou 15% ano passado. O governo jogou ao olho da rua milhares de funcionários públicos e agravou seriamente a situação da educação e da saúde.

"Aumentamos o Imposto de Renda de 18% para 20%, aumentamos o limite de idade para aposentadoria de 63 para 65 anos e introduzimos uma ampla reforma trabalhista para tornar mais flexível o mercado de trabalho", declara orgulhoso o ministro das Finanças da Estônia, Johann Parts.

Mas o ministro não disse tudo. Na realidade, a reforma trabalhista é um cheque em branco para os empresários, porque a demissão é grátis, sem indenização alguma. O desemprego atingiu 18%, enquanto, nas regiões russófonas, atingiu 25%. Na prática, as empresas não recolhem tributo algum. O salário mínimo é de 245 euros por mês.

Com esta política de pesadelo, o governo atirou os estonianos à miséria, mas conseguiu apresentar incríveis fundamentos fiscais: o déficit de orçamento é de apenas 1,7% do PIB, a dívida pública de somente 7,2% do PIB. Enquanto os 16 outros países integrantes da Zona do Euro registravam média de dívida pública de 78,7% em 2009, a Estônia registrava apenas 7,2%. Sequer um décimo.

Ricos a favor, pobres contra

O fato de ter conseguido materializar uma política tão impopular sem ter sido derrubado fez com que o Governo da Estônia se tornasse soberbo. Está convicto de que não existe sequer um problema com a moeda comum nos demais países integrantes da Zona do Euro.

"Qual crise você quer dizer? Nós não conhecemos nenhuma crise. Existe uma crise em determinados países da Zona do Euro, mas não crise do euro", declarou, incisivo, o ministro de Economia da Estônia, Jorgen Ligi, a um jornalista alemão. E continuou: "Tem alguém falando de crise do dólar porque a Califórnia faliu?".

Julgando não ter sido perfeitamente esclarecedor, prosseguiu: "Cada país deve pagar suas próprias dívidas. Embora possa aparecer grandiloquente, nós impediríamos – com muito prazer – que a Alemanha formalizasse muitos acordos neste tema de solidariedade. E atenção, nós somos mais alemães do que os próprios alemães", vociferou.

Em antítese com as bravatas dos empoados líderes políticos da Estônia, o povo do país está essencialmente dividido na questão da adoção do euro como moeda do país. Na última pesquisa realizada, 49% dos entrevistados aprovou a adoção do euro, contra 43% que se manifestou contra, enquanto o restante disse não ter opinião formada. Os ricos são a favor do euro. Já os pobres e os idosos são contra, porque temem (com razão, e logo constatarão) que o euro trará nova onda de carestia neste pobre país.

Casamento vira enterro

Obviamente, nem todos os economistas da Estônia compartilham as eloquentes tolices do governo sobre o bem-estar que, supostamente, o euro trará ao país. "A Estônia foi convidada a uma festa de casamento e hoje a gente se encontra acompanhando um enterro", declarou o economista Andrew Arak.

"Se substituirmos na Estônia nossa flexibilidade pelo rolo-compressor da Convenção de Maastricht, isto estrangulará nosso crescimento. Permaneceremos então uma afastada mesa de trabalho da Escandinávia – a China da Europa, assim o desejam" declarou Ivor Faig, professor de Economia na Universidade Técnica da capital do país Tallinn.

Mais uma "região do Quarto Reich" integra-se à Zona do Euro. Nada favoráveis serão as evoluções dos países do Mar Mediterrâneo com a Estônia, assim como nada favoráveis serão suas evoluções com os outros satélites da Alemanha: Áustria, Eslováquia, Eslovênia, República Checa e outros.

As péssimas perspectivas de cooperação com o incômodo novo parceiro da Zona do Euro não se devem somente à pesada "folha corrida" do passado nazista da Estônia. O principal obstáculo é a maneira de ser que assumiu a empoada liderança política do país, assim como, também, o povo deste país, profundamente racista e virtualmente anti-russo, cego de ódio por causa dos 50 anos em que permaneceu na esfera de influência da União Soviética. Mas, curiosamente, não se incomoda e sequer se lembra dos 400 anos durante os quais permaneceu um submisso escravo da Alemanha (inclusive da nazista).

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Fonte: Monitor Mercantil