Comparemos: no parlamento de 2000/2005, (as últimas legislativas, de que a oposição se retirou à última hora para as boicotar) o MVR (ponto de partida do actual PSUV) tinha 92 deputados de um total de 165, tantos quantos os da câmara actual. Isto não impede que se esganicem a gritar que ganharam e que todos os grandes média do planeta afinem pelo mesmo diapasão, o que sai da área do descaramento e entra na de uma loucura perigosa, que os leva mesmo a afirmar que conseguiram 52% dos votos, com o qual pretendem, de novo, levantar dúvidas sobre a transparência do sistema eleitoral venezuelano e do método de Hondt. A verdade é que só têm os tais 52% se somarem aos seus votos todos os dos outros partidos, pequenos todos eles, incluindo os que são abertamente a favor de Hugo Chávez! Por outro lado, desta votação de 26 de Setembro não se pode, em boa lei, fazer extrapolações para calcular futuros resultados numa consulta de tipo presidencial. A única eleição que lhe poderia ser comparada seria a do Parlamento Andino (Parlatino) e nela o PSUV obteve 5 268 939 votos (46,71%) contra 5 077 043 (45,01%) da MUD, o que equivaleu a 6 e 5 deputados, respectivamente.

A oposição está rouca de gritar que ganhou (o que obriga os bolivarianos a perder tempo para demonstrar que não foi assim), mas acredita realmente que venceu? Obviamente que não e obviamente que sabe que é minoritária. Se tivesse um mínimo de certeza de que poderia vencer umas presidenciais neste momento repetiria a aventura de 2004 e aceitaria o repto lançado pelo presidente Hugo Chávez 48 horas depois das eleições para que convocasse um referendo revogatório do seu mandato. Não o vai fazer e vários dos seus figurões, poucos, já negaram essa hipótese.

Mas que outra posição se pode esperar de uma força contra-revolucionária que ainda não deu por terminada a greve patronal de 2002 e ainda não reconheceu que perdeu o revogatório de 2004?

Equador: outro golpe que o não foi

Quatro mortos e quase trezentos feridos depois (entre eles vários totalmente irrecuperáveis), a direita equatoriana – como sempre apoiada pelos média internacionais – continua a querer convencer o mundo de que aquela sublevação do regimento policial de Quito – e não só – foi por motivos salariais. Não falam do sequestro do presidente Rafael Correa (que se passaria, por exemplo, nos Estados Unidos se a polícia de Washington sequestrasse Barack Obama por reivindicações salariais?), nem dos disparos sobre o carro que o resgatou. Preferem dizer que foi um show e até há quem afirme que ele foi ao regimento não para dialogar mas para provocar aqueles «anjinhos» e que se não saiu antes foi porque não quis. Podem apostar que, se tivesse sido assassinado, sempre haveria algum «analista» pronto para jurar a pés juntos que fora um suicídio e que seria acompanhado por um coro de «jornalistas independentes».

Os acontecimentos de Quito foram um golpe de Estado, falhado mas não totalmente derrotado, como o foi o de Abril de 2002 contra Chávez, sem esquecer as repetidas insurreições ensaiadas contra Evo Morales. A direita reaccionária não está desarmada e voltará à carga (para já um juiz pôs em liberdade condicionada três coronéis acusados de atentar contra Correa) e tem «boas» razões para o fazer. Com Correa no palácio Carondelet, o Equador entrou para a OPEP, modificou os contratos leoninos que submetiam o país aos interesses «sagrados» das petrolíferas e tem o atrevimento de ver com olhos solidários as grandes maiorias nacionais. Essas são políticas inaceitáveis tanto para a reacção local como para o imperialismo, que é, no fundo, quem mexe os cordelinhos criminosos de militares como Lúcio Gutierrez, que ainda abundam na América Latina e são produto da famigerada Escola das Américas.

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Fonte: jornal Avante!