Dados divulgados nos últimos dias enfraqueceram o temor de superaquecimento. Em junho, a produção industrial caiu 1% em relação a maio (na série com ajuste sazonal). Foi o terceiro mês consecutivo de queda, segundo o IBGE. O nível de produção do setor industrial tem ficado próximo do que foi alcançado logo antes da crise de fins de 2008. A produção de bens de capital também diminuiu em junho e está abaixo do nível pré-crise.

A pesquisa mensal da CNI, divulgada nesta semana, também parece desmentir a tese do superaquecimento. O grau de utilização da capacidade instalada na indústria recuou 0,2% em junho (segundo mês consecutivo de queda na série dessazonalizada). A queda do faturamento da indústria foi mais acentuada: 0,6% em relação a maio.

O próprio Copom, na ata da sua reunião de julho, deu indicações de que está reavaliando os riscos de superaquecimento e seus efeitos sobre a inflação. Ao analisar o comportamento recente de índices de preços, reconheceu ter havido “melhora acentuada na margem”. As três principais medidas de tendência da inflação calculadas pelo BC (os chamados núcleos inflacionários) acusaram queda em junho. No acumulado em doze meses até junho, os núcleos situaram-se em torno de 5%, não muito acima do centro da meta de inflação. O índice de difusão do IPCA (a proporção de itens com variação positiva) também diminuiu em junho e, no caso do IPCA-15, em julho.

Outra informação significativa: as projeções de inflação do BC, tanto para 2010 como para 2011, recuaram em comparação com as que foram consideradas na reunião anterior do Copom, realizada em junho. Além disso, o BC registrou sinais de moderação do ritmo de crescimento do crédito, especialmente para pessoas físicas. Por esses e outros motivos, o Copom concluiu que “são decrescentes os riscos para a consolidação de um cenário inflacionário benigno”.

A linguagem, como sempre, é algo tortuosa. Mesmo assim, parece claro que o Copom se sentiu obrigado a dar marcha a ré. Em retrospecto, ficou razoavelmente claro que o Copom errou na mão ao aumentar a taxa básica de 8,75% para 10,75% em apenas três meses e fomentar a expectativa de um forte ciclo de alta dos juros. Tanto a alta da inflação como o rápido crescimento da economia no início do ano tinham um caráter em grande parte temporário. A atuação do BC poderia ter sido mais ponderada, combinando recomposição dos compulsórios com aumento modesto da taxa básica.

O aumento acentuado dos juros básicos desde abril, somado à recomposição dos compulsórios, à retirada da maior parte dos incentivos tributários e à deterioração do cenário internacional, ameaça provocar uma redução excessiva do crescimento brasileiro. Há o risco de que a economia volte a crescer a taxas medíocres, abaixo do seu potencial.

Além de contribuir para a desaceleração da economia, a política de juros altos sobrecarrega o custo da dívida pública e contribui para acentuar a já excessiva valorização da moeda nacional. O real forte solapa a competitividade das exportações, estimula as importações e agrava o desequilíbrio das contas externas correntes.

Abriu-se uma enorme diferença entre os juros praticados no Brasil e no resto do mundo (atualmente próximos de zero nos principais centros financeiros). Como observou Delfim Netto, a política de juro alto faz do Brasil o último peru com farofa na mesa dos especuladores.

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Fonte: jornal O Globo