As últimas Copas em que a seleção teve cara e coração brasileiros foram as de 1982 e 1986. Mesmo tendo sido desclassificada, jogou com a ginga e o jeito brasileiro. Depois disso, houve uma crescente internacionalização dos jogadores e o desastre vem daí.

Atuando basicamente na Europa e sendo orientados por treinadores europeus, os jogadores adquirem cada vez mais os hábitos europeus de correr, driblar, marcar e chutar. Ganham em disciplina tática, mas perdem capacidade de improvisação e inovação, qualidades que sempre marcaram o futebol no Brasil.

Na seleção brasileira titular da Copa da África do Sul não havia nenhum jogador de equipes brasileiras – Robinho está de passagem pelo Santos. Todos atuam na Europa há anos e têm inclusive idade um pouco “avançada” para a profissão: a média é de 28 anos. Por isso, jogam como europeus, ganham como europeus e perdem como europeus. Nada os distingue, ao contrário do que ocorria nos tempos de Pelé, Garrincha, Tostão e Jairzinho.

Então não há solução? A seleção está fadada a se tornar quadrada, padronizada, europeizada?

Não necessariamente. Dunga jamais teria coragem de arriscar uma coisa dessas, mas ele deixou passar uma oportunidade diante de suas barbas. Há, em 2010, uma jovem equipe jogando futebol genuinamente brasileiro por aqui, a do Santos. Uma seleção com “estrangeiros” como Lúcio, Juan e Maicon na defesa e os meninos do Santos, no ataque, dificilmente deixaria de fazer sucesso na Copa. Com isso, seria possível recuperar um pouco da irreverência e da improvisação brasileira em campo, que tanto atormentaram e ao mesmo tempo encantaram os europeus no passado.

Neymar, Ganso, André e outros jovens valores do futebol brasileiro na certa serão chamados para seleções futuras, mas até lá já estarão também europeizados. A menos que venham a ser craques fora de série, como o argentino Messi, não poderão fazer muito para diferenciar a seleção brasileira das outras.

A derrota de sexta-feira para a Holanda por 2 a 1, que tirou o Brasil da Copa nas quartas de final, exatamente como aconteceu na Copa da Alemanha, foi triste, mas previsível. Europeizada, a seleção brasileira vai ganhar tanto quanto as grandes seleções europeias: de vez em quando. Encantar, nunca.

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Fonte> jornal Valor Econômico