O mundo tem dois campos: todos que perturbam a liberdade, porque a querem somente para si, estão em um; os que amam a liberdade, e a querem para todos, estão em outro.

( José Martí )

A recente visita de Lula a Cuba e a morte do preso Orlando Zapata tem provocado uma grande polêmica, jogando luz à atuação do imperialismo e às atitudes assumidas pelos partidos políticos. Mais profundamente, este debate deve nos levar a ponderações fundamentadas na formação e na informação, fora da guerra mediática que divide o mundo, segundo a epígrafe acima.

Nas raízes deste contexto há fortes variáveis em movimento, que não podem ser desprezadas. O Orçamento do Departamento de Estado dos EUA, para o ano fiscal de 2011, é um documento que merece exame. Este projeto revela, entre outros absurdos, que no próximo ano os vizinhos do norte pretendem gastar mais de US$ 20 milhões para tentar subverter o Estado cubano. Em seis capítulos, com 450 páginas, o chamado Relatório da Comissão de Ajuda para uma Cuba Livre, elaborado no governo Bush, não poderia conter mais rancor e planos de intervenção em assuntos internos de um país.

Com tarefas estratégicas visando o colapso da Ilha, este último documento indicava o incremento de apoio à contra-revolução interna e a ampliação das campanhas internacionais, além de um programa de medidas para afetar a economia cubana. Em seu primeiro capítulo, destacava-se a disponibilidade de US$ 59 milhões para o desenvolvimento da “sociedade civil” em Cuba, contando com “voluntários” de terceiros países para viajar à Ilha, em ajuda aos mercenários a seu serviço. Portanto, por parte da mídia hegemônica, cumpridora do papel de infundir o convencimento de que uma pessoa praticante de crimes comuns passe a ser um dissidente do regime, isso é o esperado.

Na realidade, essa luta começou muito antes de 1959, pois remonta ao início do século XIX a identificação da classe burguesa com a idéia de anexação. A teoria da “fruta madura” fazia alusão à inevitabilidade de que Cuba cairia nas mãos dos EUA, quando se desprendesse da Espanha. A herança do neocolonialismo predatório impôs à Ilha a unidade, como estratégia política. Inúmeras evidências, inseridas nessa tensão, têm vínculo com os problemas migratórios. A Lei de Ajuste Cubano, promulgada em agosto de 1966 – mediante a qual os EUA admitem a entrada ilegal dos cubanos, lhes concede residência e possibilidade de trabalhar – para muitos tem o objetivo de transformar o tema em ferramenta de permanente desestabilização.

Dentro deste quadro de animosidades, aos socialistas e a qualquer pessoa movida por um caráter humanitário cabe lamentar que um homem tenha sido usado e descartado, depois de cumprir o seu triste papel. Em um país onde se investe tanto em Educação é penoso aceitar que ainda existam pessoas desejosas de invadir uma casa com o fim de roubá-la ou arrastar um país para transformá-lo em neocolônia. Em um trecho de “O Dezoito Brumário de Luis Bonaparte”, Marx, com suas idéias que atravessam o tempo e as fronteiras, afirmou que, diante da orfandade, a contra-revolução bonapartista extraía seus quadros e heróis do lumpenproletariado de Paris. Mais do que nunca, os episódios ocorridos em Cuba comprovam a atualidade do pensamento marxista.

A maioria das organizações de esquerda no mundo saiu em defesa do governo cubano, denunciando uma nova campanha imperialista. Outros preferiram adotar “a fraseologia revolucionária, as palavras de ordem excelentes, que arrastam e embriagam, mas são desprovidas de base sólida”, como nos disse Lênin. Para os detratores das lutas travadas pelo povo cubano, o que fica difícil de aceitar é que a Ilha disponha de um sistema educativo – a pedra angular da Revolução Cubana –, que traz ao país o grande diferencial, caracterizado por sentimentos de autoconfiança, altivez e lealdade aos princípios, que somente a dignidade conquistada nos últimos 50 anos poderia lhes dar.

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Maria do Carmo Luiz Caldas Leite é Mestra em Educação, professora da Universidade Católica de Santos e Presidente da AELAM – Associação de Educadores Latino-Americanos da Baixada Santista.