Após uma análise dos impactos da crise internacional sobre a economia brasileira, e a reação do Governo Dilma após a eleição, o presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, apontou a necessidade do PCdoB reforçar sua identidade politica e eleitoral de esquerda, diferenciando-se de outros partidos que não têm as mesmas diretrizes para alcançar o horizonte socialista.
“O que é ser de esquerda hoje no Brasil? Para o PCdoB, é lutar pelo êxito do novo projeto de desenvolvimento como o caminho para o socialismo”, definiu Monteiro. “A identidade programática é o vértice da nossa política ideológica e da identidade que preservamos. Defendemos o Projeto Nacional de Desenvolvimento como o caminho brasileiro para o socialismo.”
O dirigente comunista afirmou que o Partido tem que sustentar isso num cenário de contradições e complexidades que só aumentam. “Mas temos campo político e lado.Temos criticas e divergências ao ajuste fiscal, mas não podemos tergiversar sobre as nossas responsabilidades com esse governo. Vacilou, mudou de campo”, enfatizou ele.
Monteiro ressalta, no entanto, que, embora o Partido esteja no Governo e o apoie, não se confunde com o Governo. “O discurso do Partido está em diálogo com o governo, inclusive nas divergências”. Para ele, é preciso disputar a opinião da sociedade, com opiniões sólidas. “Nossa marca e conteúdo é do partido que luta pelas reformas democráticas”, destacou.
Em sua avaliação, Dilma venceu demarcando posição com um programa avançado de esquerda. Mas as tensões crescem logo no primeiro mês, demandando um posicionamento firme dos partidos aliados. Pessoalmente, Monteiro avalia que Dilma fez uma composição ministerial razoável. “A classe dominante fechada em bloco contra o Governo, imobiliza-o. É preciso dividir a classe dominante, neutralizar algumas de suas frações”, analisou.
“Temos que retomar o crescimento econômico. Sem produção de riqueza não há como sustentar a redução da desigualdade”. Monteiro lembrou que, em sua primeira reunião ministerial, no dia anterior, Dilma  reafirmou  o compromisso com a qual foi reeleita: fazer avançar o desenvolvimento, com inclusão social. A presidenta, disse ele, também do alto de sua responsabilidade explicou que o seu governo teve que absorver os custos dos efeitos da crise mundial do capitalismo e também de problemas internos, como a crise hídrica e do preço da energia elétrica, com o objetivo de onerar o menos possível a produção e manter intactos os programas sociais. “Disse que o estado não tem recursos, o bastante, e, portanto, é necessário reequilibrar as contas públicas”.
Citou ainda que o “pacote econômico” tem partes que se conflitam com direitos dos trabalhadores e direitos sociais, e um conjunto de outros aspectos necessários para retomada do crescimento, como o plano de incentivo às exportações, a meta de unidades do Minha Casa Minha Vida, além de manter o regime de partilha do pré-sal.
De acordo com o dirigente comunista, a presidenta fez concessões e manobras. “O que não significa que concordamos  integralmente com tais concessões, mas rejeitamos essa categoria da capitulação. O Partido não abre mão de sua consciência crítica e de sua capacidade de interferir propositivamente no Governo”, ressaltou ele.
“O Partido vai construindo e verbalizando sua posição, mas qual é a diretriz? Reafirmar sua confiança na presidenta, refutar o raciocínio precoce de que Dilma teria capitulado ao mercado. Os comunistas seguem no compromisso de conduzir o Governo para o projeto de desenvolvimento nacional”, resumiu. Ressaltou também  que é preciso constituir um bloco social e político de esquerda, sem o que, dificilmente o governo terá uma condução acertada. As propostas entregues nas mãos de Dilma no Congresso do Partido, recordou Monteiro, compõem o documento que vai continuar conduzindo os comunistas nesta questão. “Se a presidenta defende a justeza do chamando “ajuste”, o PCdoB defende que é preciso sinalizar de conjunto para onde vai o segundo mandato”.


2015 turbulento
Para além da turbulência internacional que atinge em cheio os países dos BRICS, inclusive economias sólidas como a chinesa, o Brasil enfrenta um consórcio oposicionista que atua para reaver o poder. De acordo com a análise de Monteiro, em meio a isso, o principal partido do governo enfrenta grande revolvimento interno, revelando suas qualidades e lacunas. Os movimentos sociais também debatem e fazem a reflexão no sentido de uma maior intervenção. “É um momento de muita inquietação na sociedade, no governo e no campo da esquerda”.
No quadro econômico, o Brasil caminha para a estagnação, com crescimento do PIB inferior a um por cento. “Independente da polêmica em torno do ajuste fiscal, todos concordam que ele é contracionista”. A crise hídrica no Sudeste pode ter impacto enorme sobre a economia, aumentando o preço e a oferta de energia e de água. Monteiro avalia também que a Operação Lava Jato, que investiga irregularidades na Petrobras,afeta uma empresa e sua relação com empreiteiras, que implicam em 15% do PIB brasileiro em investimentos produtivos e infraestrutura. “Tudo isso pode levar a uma redução da mobilidade social e mais descontentamento na nossa própria base social, tornando a oposição mais forte e agressiva”.
“Embora seja grande e significativa a quarta reeleição do campo progressista, o consórcio oposicionista emerge mais forte da eleição, do que entrou”, avaliou, considerando a conquista do voto trabalhador pelo setor elitizado da política. “A disputa na eleição para a Presidência da Câmara é um sintoma desta situação, de que aumentam as tensões na base aliada do governo”.
Todo esse quadro negativo, serve para conclamar o PCdoB a “afinar a viola” e elevar a luta de ideias, provendo a militância e o campo social de alimento ideológico. Ele apontou a necessidade de promover mesas de debates com economistas afinados com esse ideário. “Toda vez que o Partido não está na luta de ideias, ele é empurrado para a defensiva”.

Reforma política, revés eleitoral e formação
Outro alerta a ser dado refere-se à costura convergente que conforma inclusive grandes partidos da base do Governo, no sentido de uma reforma política conservadora, que ameaça a democracia no país. “A cláusula de barreira e o fim das coligações proporcionais dialogam com o senso comum, principalmente no sentido de reduzir o número de partidos, o que seria uma consequência danosa para a democracia brasileira”.
Monteiro diz que o Partido vai reforçar a coleta de assinaturas para o projeto de reforma política da OAB/CNBB, que defende questões como as coligações proporcionais. Também não deve conflitar com as vertentes que defendem uma Constituinte.
Ao lado disso, o Partido avalia com cautela o revés eleitoral sofrido no Congresso Nacional, um recuo ocorrido no âmbito de todos os partidos da base, em especial de esquerda. “Recuo que sinaliza para o pesado ataque que a esquerda sofre, corroendo suas bases”. Neste sentido, o PCdoB precisa consolidar uma rede orgânica de suas bases militantes para sustentar o incremento eleitoral. Precisa dar resposta a queda da votação nas capitais e mostrar que é um partido de lutas, mas também apto a governar, como devem demonstrar as vitrines do Governo do Maranhão e do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Mas, para Monteiro, a principal forma de disputar na sociedade é a politica de quadros, “peça chave da estruturação do Partido”. ”Os quadros do Partido têm que ter formação e cultura marxista. Temos quadros de talento na política e na luta social, mas a formação marxista é pequena. No curto prazo, em situação maior de crise, ficam evidenciados os quadros que têm formação e os que não têm. È preciso garantir um plano que resulte na formação de novas gerações de quadros marxistas. Isso , também é reforçar a identidade do PCdoB como partido de esquerda”, disse ele, enfatizando a necessidade de nuclear essa formação para seções estaduais da Escola Nacional de Formação João Amazonas.
Esta foi a deixa para a reitora da Escola, Nereide Saviani, apresentar os avanços, insuficiências, diretrizes e desafios da formação comunista. Ela fez um apelo para que equipes locais consolidem a formação, priorizando uma agenda planejada de cursos, o controle sobre a informação e a avaliação de aprendizado. “Existe um descompasso na capacidade da Escola de atender a demanda de expansão da militância.”
Nereide comemorou a materialização por meio de publicação e painel expositivo da diretriz curricular nacional. Também fez um balanço positivo da consolidação do currículo e dos recursos didáticos, assim como da estabilidade da coordenação nacional, com quadros nas equipes docentes, a colaboração de intelectuais marxistas e progressistas, além do apoio financeiro da direção nacional.


O secretário-geral da Fundação, Augusto Buonicore, fez um relato das atividades que ocuparam o cotidiano da Fundação e do Centro de Documentação e Memória. “O ano eleitoral cria dificuldades para a realização de cursos, mas a eleição tem um papel inegável de formação, pelo acirramento da disputa ideológica”, ressaltou. Ele destacou também a contribuição do Partido para o programa de governo da Dilma com realização de debates avançados entre a militância.
Entre os temas que marcaram a atuação da Fundação e do PCdoB, ele citou a forte atuação nacional e estadual nas “descomemorações” dos 50 anos do Golpe de 64 e a celebração dos 90 anos da Coluna Prestes. Ele ainda pontuou a participação da Fundação e da Escola em eventos internacionais, os inúmeros debates promovidos em parceria com outras entidades, e os lançamentos de livros, que aproximaram o Partido e a Fundação de militantes e intelectuais. O lançamento do filme sobre o guerrilheiro Osvaldão foi outro ponto alto da atuação da Fundação.
O CDM, por sua vez, acumula um acervo espetacular de imagens, entrevistas, materiais gráficos e periódicos históricos. A digitalização e divulgação pela internet deste acervo favorece a pesquisa e realização de ações sobre a trajetória do Partido e seus personagens nestes quase 93 anos. 


O jornalista Claudio Gonzalez, editor executivo da revista Princípios, abordou o desafio do aumento da distribuição e circulação da publicação como uma meta a ser atingida. Para ele, é preciso dar mais visibilidade à revista e ganhar importância no debate de ideias, incrementando colaboradores para textos e captação de mais anúncios para manutenção da produção. Por isso, defendeu a ideia de inserção da revista na internet com venda de assinaturas eletrônicas.
Foi dada abertura ao debate, com intervenções do público que prosseguem até esta sexta-feira.