Mergulhada em profunda crise econômica, a Europa é campo fértil para a profusão de preconceitos e ideais extremistas, sobretudo de direita, como provam o crescimento de partidos fascistas, sobretudo nos países mais atingidos. O problema está no outro, no diferente, no estrangeiro. E assim, se deixa de lado o evidente causador do problema, geralmente protegido por essas forças obscuras.

Por conta da situação particular da Europa, as manifestações racistas e xenófobas na Olimpíada de Londres começaram por atletas de seus países. Uma triplista grega escreveu no Twitter que com tantos africanos na Grécia os mosquitos do Nilo, transmissores de doença, ao menos teriam comida caseira. É difícil imaginar que a brincadeira sem graça tenha sido elaborada pela atleta.

Provavelmente, é uma dessas piadas apócrifas que circulam pela internet, e que ela reproduziu ignorando maiores consequências. Afinal, desprezava africanos, e quem iria defendê-los? A iniciativa, felizmente, partiu do próprio Comitê Olímpico grego, que a afastou da equipe, antes mesmo que os Jogos começassem.

Logo depois, circulou a versão de que uma atleta alemã, justamente a que carregou a bandeira do país no desfile de abertura dos Jogos, teria postado em seu Twitter a seguinte mensagem: “A Vila Olímpica está cheia de atletas gregos descalços. Quando os encontramos, tememos que nos peçam um empréstimo”. A história causou indignação em Atenas, e a delegação alemã nos Jogos garantiu que a declaração era falsa. Pode ter sido, mas alguém a acharia improvável?

O assunto mal tinha esfriado, quando um jogador de futebol suíço, após perder uma partida para a Coreia do Sul, escreveu em sua conta no Twitter: “Vou espancar todos os coreanos, vão todos para o inferno débeis mentais”. O jogador, que atua na Itália, retirou a mensagem, mas o jornal suíço Le Matin já tinha publicado imagens do Twitter do jogador. Como resultado, foi excluído dos Jogos e proibido de qualquer participação em Olimpíadas no futuro.

A manifestação de ideias racistas nos Jogos já era prevista pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, que alertara para a possível presença de grupos extremistas entre os torcedores. A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, denunciou um mês antes dos Jogos “a alarmante recorrência de incidentes de racismo, discriminação racial e xenofobia numa série de países europeus”, especialmente em competições esportivas. O que ninguém poderia prever é que tais manifestações partissem dos próprios atletas e não de torcedores ou grupos extremistas.

O preconceito, no entanto, não se limita a países atingidos pela crise econômica. A judoca brasileira Rafaela Silva, foi vítima de ofensa racistas no Twitter após perder sua luta. A atleta foi chamada de macaca e desprezada por sua cor por um anônimo, que covardemente se esconde atrás de um apelido. O Ministério do Esporte disse que determinaria que a Polícia Federal investigasse o caso. É necessário que se identifique o agressor, mesmo que a atleta não queira dar prosseguimento ao caso, segundo nota do Comitê Olímpico Brasileiro.

Como disse o ministro Aldo Rabelo, a indignidade não foi apenas com a atleta, foi com todo o povo brasileiro. Assim como os atletas punidos em Londres, o autor das ofensas contra a judoca precisa ser processado para que um crime como esse não fique impune.

Fonte: Direto da Redação