O objetivo da tática é garantir o diálogo e o despertar da consciência crítica para gerar uma reversão e atrair setores e pessoas que, em algum momento, migraram para o bolsonarismo.
 
Beatriz Tibiriçá abriu o debate fazendo uma reflexão sobre as tecnologias e os mecanismos disponíveis e a não apropriação deles pela oposição ao bolsonarismo, uma vez que o uso de fake news e das redes sociais e a invasão da liberdade não foram feitos da noite para o dia e não são fruto de investidas pontuais e, sim, de um planejamento que inclui investimento de muito dinheiro, criando essa rede muito bem estruturada em cima de mentiras, arranjos montados contra a democracia.
 
 Ela destacou que, dessa forma, há uma rede de militância que consegue penetrar e disseminar fake news. “Nós temos que nos organizar socialmente, nos organizar presencialmente, nos preparar para correr na direção de entender e saber qual é a leitura crítica que a gente pode fazer das tecnologias que estão disponíveis para nossa atuação na conjuntura”, propôs Beatriz. Unir aqueles que lutam em suas realidades contra as barbáries propostas pelo atual governo também foi uma das missões apontadas por Beatriz como essencial para a mudança.
 
Everton Rodrigues enfatizou a dependência tecnológica como uma grave ameaça e disse que, num cenário mais global da situação, a realidade é que está se fazendo o possível para resistir ao capitalismo de vigilância, em que 95% das máquinas do mundo funcionam com tecnologia que são propriedades privadas de quem controla a sociedade capitalista para obter mais lucros.
 
Para mudar essa realidade, Everton afirmou que é preciso se preocupar em conhecer essas tecnologias e questionar sobre o que está instalado nos computadores e celulares. “Nosso problema é enorme e exige uma estratégia nacional e planetária para construir uma frente ampla para essa luta ideológica. É preciso construir um processo de inovação imediato, para combater esse sistema que sabe mais de nós do que nós mesmos, através dos algoritmos”, reiterou.
 
Para ele, uma das táticas é a criação de laboratórios de conhecimento livres e multidisciplinares, que servirão para promover uma escuta da sociedade, com diálogo e uma comunicação não violenta. É preciso construir uma cultura do argumento, da paciência, pois o contrário só alimenta a estratégia bolsonarista.
 
Jonas Valente alertou para o risco de se cair nas falsas oposições, ressaltando que estamos lidando com forças políticas que se profissionalizaram e dispõem de vultosos recursos para isso, mas que também conseguem promover um envolvimento orgânico significativo, que pode ser conferido pela base de apoio do presidente, que é cativado pelo discurso do clima de guerra que se instaurou. “Estamos em uma disputa extremamente desigual e precisamos atuar nas regras do jogo e essas regras envolvem os aspectos tecnológicos expostos até aqui, mas as regras do jogo também definidas no âmbito da regulação”, disse Jonas, referindo-se à medida provisória editada pelo presidente para mudar a legislação e se proteger no inquérito sobre as fake news.
 
Em outro ponto da sua fala, Jonas alertou sobre os monopólios digitais e como os Estados Unidos e Europa já se atentaram para o perigo que é, por exemplo, 90% das buscas no mundo serem feitas no Google ou o fato de quando o pacote de dados do usuário acaba, ele só possa utilizar aplicativos como facebook e instagram, passando a refém dessas grandes redes. “Esses são monopólios digitais mais perigosos que a Rede Globo. Essas plataformas acessam e coletam nossos dados, preveem e modulam nossos comportamentos e, a partir disso, criam novos serviços”, explicou.
 
Já Claudia Archer falou sobre a capacidade de dominação dos algoritmos na nossa vida e da dificuldade em se ter segurança dentro das redes. O encantamento de se comunicar em tempo real com pessoas de qualquer local esbarra nessas questões, o que reforça a importância de uma postura crítica perante a tecnologia. “É preciso ter uma formação sobre essas redes,  senão teremos, cada vez mais, pessoas manipuladas”, enfatiza.
 
Para ela, os setores progressistas precisam se apropriar dessas plataformas sociais, baseados em softwares livres, pois é o único software em que se pode fazer uma auditoria total. Segundo Claudia, é preciso construir uma sociedade crítica, que consiga detectar manipulações e que promova a confiabilidade de informações geradas, que também lute pela preservação dos nossos dados, para que sejam usados a fim de promover a melhoria de vida da população, como saúde, educação e transporte, e não para manipulação. “É preciso criar uma estratégia que chegue até as pessoas, que supere o descrédito que foi implantado e preserve o social e o humano”, concluiu Claudia.
 
O encerramento dos debates trouxe a reflexão de que a direita só conquistou o espaço na luta ideológica pela subestimação da esquerda ao tema quando no poder e que é imprescindível a união em torno de pauta forte, robusta e voltada verdadeiramente para o social e para a mudança da realidade da população mais vulnerável, além de uma frente ampla que também atue, efetivamente, nos mais diversos âmbitos, políticos e tecnológicos.

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