A cor vermelha

A cor avermelhada dos povoados, antiga,
fervorosa e tenaz na memória
do armazém noturno arde
como punho manchado e escritura
sagrada e ágil máscara da febre,
de tal forma que nunca
poderemos decifrar
a angustiada fala,
o discurso veraz e as noticias
senis da festa que acabou muito tarde,
quando a cor vermelha
dos povoados surgia
nas cinzas de aurora como o silêncio
na intempérie da última vereda, que olha
o desolado sonho e a inquietação da seca
e a cor vermelha
dos muros finais, ásperos,
a cor vermelha, a fatigada cor
que nunca perdem, quase como razão de fé,
como a pele amarga,
como a fé sedenta dos povoados.


Eliseo Diego – Debaixo dos Astros Poesias