Verde que te quero verde e encarnado

 

 

A cidade das mangueiras é morena pela raça da roça
E verde por natureza
Ela se chama Belém do grão Pará
Ontem o café do Palheta furtado em Caiena
Para enriquecer os barões de São Paulo
Hoje exportações de soja, madeira, minérios
e a gente pobre da terra a ver navios
O país que se chama Pará
Do Brasil sentinela do Norte
Tem porto Caribe com importações musicais
E a revolução cabana internacional
Iniciada primeiramente no Haiti e passada ao continente
Por contágio das idéias abolicionistas
A bordo da República do povão afro-americano
Que vai avermelhando campos e cidades
Além da melanina.

Na feira do Ver O Peso com certeza
O que era verde amarelou em mil e uma frutas maduras
Ilhas fronteiras pintam a paisagem verdejante
O viajante do mundo mata sua fome de paisagens exóticas
nas barracas de peixefrito com pirão de açaí
Avermelha o dia cheio de suor e calor equatorial
Promessas de messes e chuvas da tarde
Seus cuidados pra fazer nascer do chão a rosa vermelha
a cabo de longo trabalho no parto da manhã
A natureza inteira na roseira da beira do rio
Quanto amor e quanta dor
De quem plantou e não colheu pra si
Mas sim remou e rimou o vermelho da cor
A ver brotar o lume da negritude e o verde da plantação
do chão adubado e encharcado
de sangue, suor e lágrimas
da libertação dos negros da Terra
sejam eles brancos, amarelos ou filhos da Guiné.

 

 

 

    José Varella, Belém-PA (1937), autor dos ensaios “Novíssima Viagem Filosófica”, “Amazônia Latina e a terra sem mal” e “Breve história da amazônia marajoara”.

 autor dos ensaios “Novíssima Viagem Filosófica” e “Amazônia latina e a terra sem mal”, blog http://gentemarajoara.blogspot.com