(…) Seus olhos ora brilhavam, ora tornavam-se opacos. Tossiu e pigarreou antes de falar:

      – Irmão e irmãs, mexicanos, infratores da lei. Vim aqui pedir-lhes que mais uma vez infrinjam a lei. Infringiram-na vindo até aqui. Peço que cometam nova infração. Porque têm uma opção: infringir a lei e viver como seres humanos, ou amoldar sua vida às leis e então viver, no melhor dos casos, como animais domésticos.

      A lei nos agrilhoa, a lei nos escraviza. Infringir a lei é ser livre!

      E que é a lei, afinal? A lei do fugitivo! A lei do senhor! A lei da fome! A lei do confisco!

      Que vemos aqui? Perguntem a si mesmos.Pensem nos arrendamentos que pagam, e que sobem de ano em ano para sustentar os senhores nas suas ricas moradas, para que eles mandem os filhos para países estrangeiros, as mulheres para a capital. Para manter Don Porfírio com seus chapéus de seda e belas carruagens. Quando há seca, os arrendamentos sobem. Quando há fartura, os arrendamentos sobem. Ano a ano eles tomam um pouco mais. É esta a lei! A lei toma! A lei é um ladrão!

      Peço a todos que ajam ilegalmente, infrinjam a lei, a fim de terem pão para as suas bocas e leite para a boca de seus filhos!

      A lei humilha, a lei nos torna efeminados: infringir a lei robustece, infringir a lei liberta.

      Uma revolução se aproxima, irmãos, e chegará breve. Por todo o México os nossos irmãos se preparam para subverter a lei, votar com as armas e as facas, libertar a si mesmos e aos seus filhos para sempre, acabar com os confiscos e a lenta fome dos altos arrendamentos e dos preços exorbitantes dos armazéns da companhia. Irmãos, a revolução está começando nas minas e nos campos e nas planícies. A revolução está começando nas cidades e nas montanhas. Os professores estão prontos para infringir a lei, os alunos estão prontos, as mulheres estão prontas. E os homens? Os homens estão prontos para a liberdade, estão prontos para ser homens?

      Mas não digam depressa que estão prontos. Falem a verdade. Digam que estão prontos para lutar pela liberdade! Digam que lutarão até a morte contra as leis que nos escravizam a todos! Digam! Gritem! Estão prontos?

      – Sim! – gritaram. – Sim! Estamos prontos!

      – Então, façam greve! Comecem pela greve! Quando os senhores aumentarem os arrendamentos, façam greve! Não paguem! Comam o que colherem! Mostrem as armas e os facões quando pedirem milho e algodão! Mostrem que são homens! Mostrem! Infrinjam a lei! Façam greve! Greve!

      Aplaudiram, aceitaram as palavras como um presente, responderam com promessas. Ele saltou do tronco de árvore para as mãos deles, deitou-se no leito de mãos, segurou-as, louvou seu contato. Villa pediu a Liviana que o convidasse a entrar em casa. (…)

 Pancho Villa: O Revolucionário Mexicano, tradução de Áurea Brito Weissenberg – Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1983, pág. 383.