QUEM FOI que o berço me embalou da infância
Entre doçuras que do empíreo vêm?
E nos beijos de célica fragância
Velou meu puro sono? Minha mãe!
Se devo ter no peito uma lembrança
É dela que os meus sonhos de criança
      Dourou: – é minha mãe!

Quem foi que no entoar canções mimosas
Cheio de um terno amor – anjo do bem
Minha fronte infantil – encheu de rosas
De mimosos sorrisos? – Minha mãe!
Se dentro do meu peito macilento
O fogo da saudade me arde lento
      É dela: minha mãe.

Qual anjo que as mãos me uniu outrora
E as rezas me ensinou que da alma vêm?
E a imagem me mostrou que o mundo adora.
E ensinou a adorá-la? – Minha mãe!
Não devemos nós crer num puro riso
Desse anjo gentil do paraíso
      Que chama-se uma mãe?

Por ela rezarei eternamente
Que ela reza por mim no céu também;
Nas santas rezas do meu peito ardente
Repetirei um nome: – minha mãe!
Se devem louros ter meus cantos d'alma
Oh! do porvir eu trocaria a palma
         Para ter minha mãe!


Obras Completas
Machado de Asis
O Almada & Outros Poemas
Editora Globo 1977.