A mesa está posta.
Mesa de aposta.
Apostasia.

Não cabem mais lugares para tantos perfeitos milagres incontáveis sobre a multidão disforme.

Quem levantará cedo para colher a lua antes que se ponha?
Quem lançará raios sobre o poente eterno, e vingará a noite?

Não haverá manhãs, com pássaros, calor e insetos.
Não se encontrarão mais romãs e vinhas e cítaras e sorrisos.
Ou pandeiros e melancias, abóboras, pagodes e temperos.

A criação submetida a falsos deuses,
escorre em discursos,
da rampa do palácio
para os púlpitos picadeiros,
traficantes sobrenaturais.

A lógica do sim, senhor,
em lugar da Vontade sem lógica.
A lógica do vulgar
no divulgar

A perda do sal
na prova divinal.

Um espírito epidérmico
sacudindo a ordem dos séculos
em cânticos tribais,
assoberba-se em santidade.

A orgia religiosa em produtos salvíficos.
Neocurandeirismo brasileiríssimo.

A fantasia realizada
Na latência social.
Engodas vésperas
de grandes confrontos.

———————————-

João Paulo Naves, mora em São Paulo e tem 60 anos. Poeta, Sociólogo e Teólogo. Escreveu "Chão do Mundo", "Banidos e Profanos", "Dito pelo não Dito" e vai para a quarta publicação, "Gota Serena", todos de poemas.