(…)… “é preciso castrar os substantivos, isto é, tirar-lhes as excrescências. As excrescências são os adjetivos qualificativos. O substantivo, o nome, o puro nome, tem em si mesmo sua mera e única qualificação. O adjetivo não pode aparecer senão excepcionalmente. Em sua hora e sua vez. Como uma flexão do puro nome, não como um apêndice qualificativo, ornamental, do substantivo. O nome não precisa de nenhum décor, nenhuma decoração. O nome, o substantivo, é seu próprio e natural adorno. O adjetivo só pode aparecer quando, por privilégio do substantivo, salta de dentro dele, de sua polpa, como um caroço reprodutor. É o que acontece em Homero e Virgílio. De outro modo, morte ao adjetivo!” (Carta de R.Y.)

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… “Os adjetivos – como as preposições, conjunções, etc. – são peso morto que desfigura a ereção do mero nome. Que o abatem, corrompem, depravam e estendem uma cortina, uma poluição visual contra sua imagem. A poesia me ensinou que o adjetivo ( como seus contíguos – advérbios, etc.) é a coisa do retórico, do orador, para arredondar e  ‘acabalar’ os conceitos de sua razão. Isto está na luz do entendimento poético. Eu não saberia explicar como, mas é assim. Assim é. Assim sabem os poetas. Sabia Hoelderlin, segundo Heidegger Hoelderlin, poeta dos poetas, poeta da poesia. Em outra escala, segundo Gerardo Diego, até García Lorca, poeta de cantares, também sabia disso.”(Carta de N.L.) (…)

 
Invenção do Mar
Gerardo Mello Mourão
Editora Record – edição 1997