Cada uma das letras deste livrinho que ora lês,
Tracei-a no correr de agitada viagem.
Esta quando, a tremer num gélido mês de dezembro,
Viu-me o Adriático escrevendo em meio às águas:
Esta outra depois de ultrapassar o Istmo  entre dois mares
E em segundo navio empreendermos a fuga.
Eu fazer versos em meio ao murmúrio do mar bravo
Espantava, suponho as Cíclades egéias .
A mim mesmo admira que ao tumulto da alma e das vagas
Meu próprio gênio não tivesse sucumbido.
Quer se chame tal paixão de insânia ou estupidez,
Somente ao seu influxo ergueu-se meu espírito.
Sacudiam-me amiúde os Cabritos borrascosos :
E a estrela de Estérope  fazia o mar minaz;
Ao dia escurecia o guardião da Ursa erimântica
Ou chuvas vesperais trazia o Austro  às Híades .
O mar vinha amiúde para dentro: embora a mão
Tremesse, eu escrevia versos: quais, que importa?
Zunem agora, sob o Aquilão , os cabos distensos
E a vaga se levanta à feição de montanha:
O próprio timoneiro, erguendo as mãos aos céus, lhes pede
Socorro e faz votos, imêmore do ofício.
Para onde quer que eu me volte, só vejo a imagem da morte,
Que temo mas invoco, indeciso e temente:
Hei de atingir o porto e o porto vai me apavorar:
Mais do que o mar hostil, a terra me dá medo.
Sofro, a um só tempo, a insídia dos homens e do mar,
Me atemoriza tanto o gládio quanto a vaga:
Temo que um só espere pela presa do meu sangue
E a outra queira ter de minha morte a honra.
À esquerda, um país bárbaro afeito à rapinagem
Onde guerra, sangueira e morticínio lavram,
E por mais que ao mar agitem as vagas invernais
Mais agitado ainda está meu coração.

Deves, por isso, escusar estes versos, bom leitor,
Se, tal qual são, frustrarem tua expectativa.
Eu não os escrevi, como os de outrora, em meus jardins ;
Nem, leito costumeiro, acolhes o meu corpo.
Sou um joguete, à luz do inverno, sobre águas indomáveis
Que fustigam, cerúleas, o próprio papiro.
Raivosa e maligna, a borrasca investe contra mim,
Que ouso escrever, e faz-me ameaças cruéis.
Que ela vença um homem, mas, ao mesmo tempo, suplico,
Que emudeço meu canto, ela também se cale!