escrevo a tarde com seus mormaços
com seus traços de lírio e luz
delírios de azuis
no olho e no riso da moça
com que olho e arde
a tarde azul
 
escrevo a tarde com seus desejos
digo o que vejo
no olho que passa
na moça alta de pernas longas
o passo leve, o passo breve
que pisa o peito
a mim, que espreito
o olhar da moça

a moça passa na minha escrita
que grita, aflita
pelo olhar da moça
por uma migalha da sua luz
pra que seus olhos,
lírios azuis
mirem os meus, de andaluz
andante errante
da tarde azul

a moça passa sem que me olhe
sem que me veja
o poeta aflito
o verso, um grito
súplice, contrito,
pelo olhar errante
da moça voante
ave arribante
imensas asas nas omoplatas
o passo breve de quem vai voar

escrevo a tarde com seus delírios
com seus desejos de lírio e dor
a tarde cor com seus mistérios
seus tons etéreos
de desamor