Estima-se que existam mais de 350 músicas brasileiras que falam, direta ou indiretamente, de futebol. Do choro de Pixinguinha ao Gol Anulado, de João Bosco e Aldir Blanc; da metáfora política de Geraldinos e Arquibaldos, de Gonzaguinha, a trabalhos de  Skank, O Rappa, Engenheiros do Hawaii, Gabriel o Pensador; do choro-canção Falando de Amor, de Tom Jobim ("… esqueci até do futebol") à obra O Futebol, que Chico Buarque lançou em 1989. Pixinguinha e Benedito de Lacerda iniciaram a série, com 1 x 0 — mais tarde acrescida de letra de Nelson Angelo.

Dia 29 de maio de 1919. Decisão do Campeonato Sul-Americano. Estádio das Laranjeiras abarrotado por 28 mil pessoas. O Brasil ganha do Uruguai por 1×0 e fatura seu primeiro grande título. Gol de Friedenreich, o Tigre, então artilheiro do Clube Atlético Paulistano. É difícil saber ao certo quantas são as dezenas de versões do clássico de Pixinguinha e Benedito Lacerda já gravadas. Wilson Batista e Noel Rosa também fizeram músicas inspiradas sobre o esporte. O namoro virou casamento quando Lamartine Babo foi desafiado a compor hinos para os grandes clubes da cidade, em 1929. Em uma só tacada, lançou as músicas que até hoje são cantadas pelas torcidas nas arquibancadas.

Não são simples gritos de guerra, são canções lindas. Em uma reportagem publicada em 1978, a revista Placar levantou que existiam, à época, 150 títulos ligados ao futebol. De lá para cá, vieram outras centenas. A tabelinha fez sucesso até com quem não é cantor profissional. Silvio Santos lançou “Coração Corintiano”. Pelé tocou com Roberto Carlos e Elis Regina. O ex-centroavante do Santos e da seleção brasileira Serginho Chulapa também se arriscou no microfone. Seu companheiro na Copa de 1982, o lateral Júnior, ex-Flamengo, chegou a lançar dois discos. Às vésperas do mundial da Espanha, ele gravou Voa Canarinho, música que virou fenômeno de futebol-arte. Depois, em 1995, gravou um CD só com músicas em homenagem a seu Flamengo.

Veja as músicas mais marcantes dessa parceria:

Flamengo – 1912 – Bonfiglio de Oliveira

Uma das primeiras músicas inspiradas em futebol no Brasil. Há divergência sobre sua criação, se em 1911 ou 1912. O certo é que o chorinho é uma homenagem do trompetista Bonfiglio de Oliveira à entrada do Clube de Regatas Flamengo no campeonato de futebol do Rio de Janeiro.

Pixinguinha e  Benedito Lacerda: 1 a 0

Pixinguinha teve a idéia de compor a música em homenagem a um gol marcado pelo grande craque brasileiro do início do século, Arthur Friedenreich, na decisão contra o Uruguai no Campeonato Sul-Americano de 1919. Após marcar de voleio o gol da vitória, o craque foi carregado pelos braços do estádio das Laranjeiras até o centro do Rio de Janeiro. Durante anos, Pixinguinha apenas tocou o choro, que passou a ser cantado somente muito tempo depois.

Um a um – 1954 – Jackson do Pandeiro

Para Alceu Valença, Jackson do Pandeiro é o Garrincha da música. Na década de 1950, o paraibano radicado no Rio de Janeiro encantou o país com a irreverência de suas composições. Ficou célebre com Um a um, em que exalta o futebol ofensivo da época em que a seleção não entrava em campo com três volantes: um empate pra mim já é derrota. A música foi mais tarde regravada pelos Paralamas do Sucesso, que deram um toque moderno à letra. O center-forward virou centroavante, e Romário e Bebeto entraram no jogo.

Que bonito é

Apesar de não ter sido composta para homenagear o futebol, a música que exalta a mulata e a gafieira virou sinônimo do esporte. A relação começou quando, nos anos 1950, foi escolhida como trilha sonora do cine-jornal Canal 100, que exibia semanalmente no cinema documentários sobre os grandes craques da época. O Canal 100 funcionou até 2000, mas a música de Luis Bandeira até hoje tem tudo a ver com futebol.

Fio Maravilha Jorge Ben

A mais conhecida de todas as canções em homenagem a jogadores foi inspirada em um atacante que nunca foi craque. Longe disso. João Batista de Sales, o famoso Fio Maravilha, defendeu o Flamengo e era desengonçado e folclórico. Uma espécie de Obina dos anos 1970. Na época, a música era cantada por milhares de flamenguistas no Maracanã. O curioso é que Jorge Ben teve que mudar sua letra para Filho Maravilha e só foi autorizado pelo jogador a retomar o refrão original em 2007.

Gol anulado – 1976 – João Bosco e Aldir Blanc

João Bosco e Aldir Blanc exploram outro grande filão das músicas sobre futebol: misturam o drama do esporte à paixão pelas mulheres. Eu aprendi que a alegria de quem está apaixonado é como a falsa euforia de um gol anulado, diz a letra da canção, lançada no LP Galos de briga. Junto com a música O ronco da cuíca, Gol anulado ajudou a dupla a ganhar, em 1976, o troféu de Compositores do Ano.

Povo feliz/Voa canarinho voa – 1982 – Memeco e Nono

A música virou símbolo da Copa de 1982 após o lateral Júnior, ex-Flamengo, gravá-la num LP às vésperas do Mundial. O disco, com a cabeleira de Júnior estampada na capa, vendeu mais de 600 mil cópias em 1982. Até hoje, Júnior dá suas palhinhas e a canção composta por Memeco e Nonô é identificada com uma das melhores seleções brasileiras de todos os tempos.

O futebol – 1989 Chico Buarque

Chico compôs a música para homenagear os ídolos de sua infância, que assistia jogar no Pacaembu e no Maracanã: Garrincha, Didi, Pagão, Pelé e Canhoteiro. O cantor é compositor sempre foi apaixonado por futebol e pelo Fluminense. Costuma terminar seus shows e ir direto para o campo jogar uma pelada junto com seu time, o Politeama que tem inclusive hino gravado por ele.

Veja mais alguns classicos: Jorge Benjor: Pelé

Jackson do Pandeiro: Frevo do Bi (1962)

Artistas apaixonados pela bola formam seleção de craques

Skank: É uma partida de futebol

 

Waldir Calmon: Na Cadencia do Samba (Que Bonito É) Wilson Simonal: Aqui é o país do futebol

Chico Buarque – Hino do Politeama

Chico Buarque: O Juiz apitou

Chico Buarque: Meu caro amigo

Noel Rosa, Por Chico Buarque: Conversa de Botequim

Gonzaguinha: Geraldinos e Arquibaldos

Nelson Petersen: Deixa Falar

Gilberto Gil: Música no futebol